“E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom.” (Gn 1,31).
Foram com essas palavras que no ano de 1999, o nosso saudoso papa, João Paulo II, iniciava sua Cartas aos Artistas, um grande contributo moderno para entender e valorizar o papel do artista, seja ele músico, pintor, arquiteto, etc, dentro da ação da Igreja em nossos tempos.
Ainda no cabeçalho desta ele explica a quem se destina seu escrito:
A todos aqueles que apaixonadamente procuram novas « epifanias » da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística.
Destaco destas palavras quatro em especial:
Quantos de nós em nosso serviço pastoral através da música, principalmente dos inícios de nossa caminhada nos sentimos movidos por uma força que nos impulsiona sempre a querer mais, a desejar mais se entregar a Deus e a seu serviço, sem medir tempo nem esforço. Nós artistas somos movidos por essa força, a paixão pela nossa arte, paixão por querer ser santo, paixão por poder contribuir, através do nossos dom, para que aconteça a obra de evangelização e o nome do Senhor seja glorificado e amado. Essa força muitas vezes parece que vai se dissipando em nós através do tempo que vai passando ou até mesmo das dificuldades que vão surgindo. Mas, o sentido dessa força não é meramente casual, nem muito menos simplista, mas o sentido está na nossa experiência quanto pessoa, criatura, filho de Deus que se encontrando com ele, percebe que nada é seu, nem mesmo o dom da arte, mas é do criador, veio dele e por isso precisa a ele retornar. Sempre nos vem ai o convite a “voltar ao primeiro amor”, a arte tem sempre esse poder: de despertar em nós um novo ardor no que fazemos.
Durante toda a história da civilização, e em especial da nossa, ocidental, da qual possuímos considerável quantidade de fatos documentados, o artista sempre foi insaciável pelo novo, por criar algo realmente particular, primeiro, o artista sempre foi e é fascinado pelo Novo. Durante toda a nossa era cristã, já de mais de 2000 anos, a Igreja sempre esteve a frente das revoluções artísticas, aliás, podemos dizer que não só esteve a frente, como foi a própria Igreja quem “criou” a arte ocidental como a conhecemos. Foi ela que uniu a arte oriental dos judeus, a arte grega, mas também a arte romana e tantos outros elementos de arte por onde foi passando, até mesmo elementos da arte pagã, sempre com a intenção da glorificação de Deus e a integração do povo, mas unido a isso sempre esteve a vanguarda da criação artística, incentivando e promovendo a criação.
A arte por si mesmo necessitada da beleza, está no cerne da arte a beleza. Há aqueles que acham que para algo ser bonito precisar ser difícil, ser incrementado, as vezes ficando até poluído, outros acham que o bonito é apenas o extremamente simples o ligeiramente fácil de entender. Na verdade a beleza está no equilíbrio. E na história da música ocidental a arte foi sempre testemunhando que as obras mais belas e mais elaboradas são aqueles que entram equilíbrio, as vezes ideológico, é verdade, mas em equilíbrio. Quer algo mais simples e ao mesmo templo complexo quanto uma cadência saindo do acorde de tônica, indo para o dominante e resolvendo para a dominante? Toda a música gira em torno disso, mas quantas possibilidades e quanto mais seguimos o caminho próximo disso, mesmo de forma elaborada, mais bonito. A arte sacra não combina com o feio. Tudo o que Deus fez é bonito e em equilíbrio. Daí o por que o músico católico precisa, tem a responsabilidade de se empenhar em fazer da sua arte uma arte bela. “A beleza salvará o mundo”. (Fiodor Dostoievski)
A arte é uma vocação. É verdade, ela nos vem como Dom. Um dom precioso, que como toda vocação precisa ser cultivada, respondida. Aquele que recebeu de Deus uma “alma de artista”, não consegue resistir, e tudo o que faz na sua vida o faz com arte, mesmo sem saber. A pessoa tem uma sensibilidade especial, e digo isso no sentido de que percebe o mundo como artista. O artista é para o mundo. A arte cristã comunica Deus, as belezas de Deus , O novo de Deus, um Deus apaixonado pelo seu povo, mas ao mesmo tempo apaixonado por cada um, o artista é para o mundo, sinal da beleza criadora de Deus, que constrói na sua obra as maravilhas de Deus.
Você é convidado para comunicar através de sua arte as maravilhas de Deus.
Grande abraço…
Enilson Benicio
Membro da Comunidade Canção Nova
Fonte: http://blog.cancaonova.com/musicadedeus/por-que-estudar-musica/